A comunidade da Fazendinha, localizada às margens do Rio Pará, vive um momento de redescoberta com o início da infraestrutura urbana e uma busca legítima por melhorias em educação, saneamento e reconhecimento como comunidade tradicional. No entanto, a história dessa comunidade é muito mais antiga, remontando a décadas atrás. Dona Maria do Socorro Rodrigues Pontes, de 60 anos, e José Maria Félix Pontes, de 76 anos, membros da família pioneira da região, compartilharam com a reportagem do Portal Barcarena a origem da comunidade e seu desenvolvimento ao longo dos anos.
Dona Maria do Socorro, matriarca da família, recebeu a equipe para contar como lutou pela comunidade desde que a Companhia de Desenvolvimento de Barcarena (CODEBAR), que operou entre 1979 e 2010, abriu uma estrada que interferiu nos modos de vida dos pescadores da região. Ao lado de José Maria Félix Pontes, seu ex-esposo, e das filhas Maria José e Deonise, ela relembra a luta iniciada quando a estrada afetou a vida dos pescadores entre o rio Pará e o furo do Arrozal, no Rio Mucuruçá.
“Vivemos por muitos anos na beira do rio, porque a gente não podia subir da beira do rio para terra, não podia abrir caminho, nem se quer cortar uma vara porque as terras eram da CODEBAR. Vivíamos isolados na área pertencente à marinha, em uma palafita praticamente dentro do rio“, conta emocionada.
DESAFIOS E CONQUISTAS
José Maria Pontes lembra que, quando a CODEBAR descobriu que havia moradores na área hoje ocupada pela comunidade, a família foi intimada a deixar o local sob a justificativa de serem “posseiros” em terras pertencentes ao Estado. Contudo, após muita luta e a ajuda de um advogado, Felício Pontes, conseguiram o título de propriedade.
“Lutei muito pela documentação das terras da comunidade”, diz Dona Maria do Socorro. Ela lembra que, mesmo não sendo alfabetizada na época, foi ao Ministério Público e, dias depois, recebeu o título de propriedade da terra, que foi dividida entre os ribeirinhos originários e pessoas assentadas na região.
A Fazendinha enfrentou despejos policiais e perseguições, mas, após a comprovação da documentação, a CODEBAR permitiu a permanência da família na área.
RAÍZES
A comunidade guarda vestígios históricos não oficiais, que seriam do período colonial. De acordo com os moradores, o nome “Fazendinha” surgiu de uma grande fazenda e uma serraria que existiam na região. Ruínas de um casarão com 100 janelas e área para escravos, além de um antigo cemitério, ainda podem ser encontradas, lembrando o passado da localidade.
O Portal Barcarena teve autorização para registrar a região das ruínas, onde uma imponente samaumeira, árvore amazônica, cresceu:
A comunidade guarda vestígios históricos não oficiais, que seriam do período colonial. De acordo com os moradores, o nome “Fazendinha” surgiu de uma grande fazenda e uma serraria que existiam na região. pic.twitter.com/pN2A0QLxWD
— Portal Barcarena (@portalbarcarena) June 24, 2024
A imponente samaumeira, árvore amazônica, é um dos símbolos da resistência e luta da comunidade, que continua a buscar um futuro melhor para todos os seus moradores. Dona Maria do Socorro reflete sobre as mudanças na região: “Vou deixar um legado para meus filhos, netos e bisnetos.”